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domingo, 11 de setembro de 2011

A "religião da paz": Sobre 11-09-2001 e o terrorismo

Sobre 11-09-2001 e o terrorismo

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Humilhados no campo de batalha [mormente pelos israelenses], os Estados árabes recorreram ao patrocínio do terrorismo de exilados palestinos. Operando de bases no Egito, no Líbano e na Jordânia,fedayins – literalmente, “autossacrifícios” – realizaram numerosos ataques a civis israelenses depois de 1949. Nos seis anos entre 1951 e 1956, mais de quatrocentos israelenses foram mortos e novecentos feridos por esses ataques.

A escalada de violência

Depois da Guerra dos Seis Dias, a Organização para a Libertação da Palestina operou com impunidade, a partir do território jordaniano, até que a pressão israelense forçou sua expulsão em 1970. A OLP, então, mudou-se para o sul do Líbano, um país cuja subsequente descida rumo à guerra civil criou um canteiro quase perfeito para organizações terroristas (algo que a invasão síria em 1976 não fez nada para alterar).

Ataques terroristas por guerrilheiros da OLP sediados no Líbano levaram os israelenses a invadir o país depois de um sequestro particularmente sangrento em março de 1978, embora eles tenham, subsequentemente, concordado em entregar a zona de fronteira para uma tropa das Nações Unidas. Quatro anos depois, em junho de 1982, Israel lançou uma invasão completa do Líbano, sitiando o reduto da OLP no oeste de Beirute e, mais uma vez, empurrando seus líderes para fora – dessa vez para a distante Tunísia.

O ministro da defesa de Israel, Ariel Sharon, não ficou satisfeito com isso. Sua cínica decisão de soltar os cristãos maronitas aliados de Israel sobre campos de refugiados palestinos levou, diretamente, a um horrível massacre que custou a vida de 700 a 1000 pessoas. Em meio à condenação internacional – à qual os Estados Unidos aderiram – tropas de paz da ONU foram novamente mobilizadas. Entre elas estavam várias centenas de fuzileiros navais dos EUA.

A hidra do terrorismo

A OLP e seus associados travaram sua guerra por muitos anos em duas frentes: não só diretamente contra Israel, mas, indiretamente, contra israelenses ou supostos simpatizantes israelenses no exterior. O terrorismo é, no entanto, uma hidra de muitas cabeças. Embora a OLP tenha sofrido um golpe severo com a invasão israelense do Líbano, os anos 1980 viram o surgimento de novos grupos, como a Organização de Abu Nidal, a Frente Popular para a Libertação da Palestina, o Hezbollah e o Hamas.

Enquanto a OLP devia mais ao nacionalismo e ao marxismo, essa nova geração de terroristas identificava-se, primariamente, com o islã. O que punha sua tática à parte daquelas dos anos 1960 e 1970 era o recurso ao ataque suicida e sua disposição muito maior para atacar americanos. Provavelmente deve-se atribuir menor significado para o primeiro desses traços. Na maioria dos países, na maior parte do tempo, terroristas que cometeram atos de assassinato foram, de fato, suicidas, já que eles ou morreram in flagrante ou foram executados depois por seus crimes.

O 11 de setembro e anteriores

Os especialistas que ficaram, momentaneamente, impressionados pela disposição dos terroristas do 11 de setembro de “matar a si mesmos para matar os outros” estavam se esquecendo de muitos precedentes desse comportarnento. Muito mais importante era o fato de que esses terroristas agora consideravam americanos um alvo legítimo. A virada nesse aspecto veio em 18 de abril de 1983, quando um terrorista suicida atacou a embaixada americana em Beirute matando 63 pessoas, incluindo toda a equipe de Oriente Médio da ClA. Seis meses depois, em outra missão kamikaze, um caminhão carregado de TNT foi jogado em direção a um quartel libanês onde fuzileiros navais americanos estavam alojados, matando 241 deles. A mesma tática matou quatro pessoas quando foi usada contra a embaixada dos EUA no Kuwait.

O terrorismo vem diminuindo

O impacto dos ataques de setembro de 2001 foi tal que é fácil esquecer que o número de incidentes terroristas internacionais vem na verdade caindo desde o pico do meio dos anos 1980 (ver figura abaixo).

Houve três vezes mais ataques em 1987 do que em 2002. Ao mesmo tempo, porém (embora com um declínio nos anos 1994-1995), a proporção de ataques diretos a americanos e interesses americanos vem crescendo. Como mostra a tabela 4, mais de uma a cada dez vítimas de terrorismo através das fronteiras desde 1991 é americana.

Alvo fácil: o World Trade Center

O World Trade Center foi atacado pela primeira vez em 1993. Isso foi seguido pelas explosões no quartel dos EUA na Arábia Saudita em 1996, nas embaixadas dos EUA em Nairóbi e Dar-es-Salaam em agosto de 1998, e pelo ataque ao [navio norteamericano] USSCole em Aden em outubro de 2000. Não foi uma profecia maluca quando a Comissão Nacional de Segurança, dirigida por Gary Hart e Warren B. Rudman, alertou em seu primeiro relatório, de setembro de 1999:

«Terroristas e outros grupos descontentes vão adquirir armas de destruição em massa e de danos em massa, e alguns vão usá-Ias. Americanos provavelmente vão morrer em solo americano, possivelmente em grande número».

Repetindo, o surpreendente no 11 de Setembro foi simplesmente que ele não tivesse ocorrido antes. Os Estados Unidos tinham subsidiado Israel por anos. Tinham escorado o regime do xá no Irã. Tinham mobilizado soldados na Arábia. Não havia falta de motivos para um ataque de um ou outro grupo terrorista do Oriente Médio.

O que foi demonstrado para os americanos comuns no dia 11 de setembro de 2001 era fartamente conhecido pelos especialistas havia anos. Os americanos não eram só um alvo, eles eram um alvo fácil.

Facilidades de hoje

O terrorismo pode não ser novo, mas os terroristas de hoje têm vantagens impressionantes em relação a seus predecessores. A tecnologia significa que grande destruição pode ser infligida a um custo desprezível – daí o número crescente de vítimas por ataque. Um rifle de assalto Kalashnikov pode ser comprado por umas poucas centenas de dólares.

O custo real de uma ogiva nuclear – e certamente o custo real de um kiloton de efeito nuclear – é quase com certeza mais baixo hoje do que em qualquer período desde que o Projeto Manhattan atingiu seu objetivo. A primeira bomba custou cerca de 2 bilhões em dólares de 1945. Convertido a preços de 1993, o número cresce dez vezes, o suficiente para comprar quatrocentos mísseis Tridente II. O fato de que a França pôde quase dobrar seu arsenal nuclear (de 222 ogivas em 1985 para 436 em 1991) ao mesmo tempo em que aumentava seu orçamento de defesa em menos de 7% em termos reais fala por si. Ainda assim, a AI Qaeda não precisou de nada tão sofisticado para destruir os prédios mais altos de Manhattan: só umas aulas de voo e estiletes. No momento em que escrevo, é possível pagar oitenta horas de aluguel de um avião e aulas de voo por menos de US$ 9 mil. Um estilete com seis lâminas custa US$ 2,11.

As perdas relativas aos ataques de 11 de setembro

Por uma ninharia em dinheiro, portanto, um punhado de homens foi capaz de matar 3.173 pessoas e infligir perdas econômicas imediatas estimadas em US$ 27,2 bilhões – uma fração minúscula da perda acumulada na receita nacional que foi inicialmente projetada em cerca de 5% do PIB.

Para a indústria de seguros, diz-se que os custos finais do desastre ficaram entre US$ 30 bilhões e US$ 58 bilhões. As companhias aéreas americanas também foram gravemente afetadas, assim como o turismo. Os pagadores de impostos enfrentaram uma conta não só pela reconstrução, mas também pelo resgate das companhias aéreas e os gastos significativamente aumentados em “segurança interna”. Os custos de longo prazo dos ataques do 11 de Setembro – sob a forma de um grau maior de incerteza, volatilidade do mercado, custos de segurança e taxas de risco – só podem ser conjecturados.

Como se saíram os EUA?

A economia dos EUA passou por esse golpe mais facilmente do que muitos temeram na época. Olhados em termos estritamente econômicos, os ataques do 11 de Setembro foram comparáveis a um desastre natural muito severo: caro, mas pagável, e muito menos significativo do que a deflação da bolha do mercado de ações que tinha começado um ano e meio antes.

Comparado ao estrago que poderia ter sido feito pela União Soviética na eventualidade de a Guerra Fria ter se tornado “quente”, eles foram, na verdade, triviais.

Os riscos já foram maiores

O fato da “terceira guerra mundial”, simplesmente, não ter acontecido não deveria nos levar a tirar a conclusão errada de que a AI Qaeda é mais perigosa para os Estados Unidos do que foi o comunismo soviético. Como vimos, as ideologias das duas entidades guardam certas semelhanças, mas a capacidade militar de Stálin, Khrushchev e Brejnev excediam as de bin Laden por muitas ordens de grandeza. Um ataque pela União Soviética teria deixado centenas de milhares, se não milhões de americanos mortos e teria apagado os traços não só de duas torres, mas de diversas cidades.

O problema com a AI Qaeda não é que ela seja uma grande ameaça; é que uma ameaça tão pequena e, em termos de organização, tão difusa, é extremamente difícil de localizar, seja para aniquilar, seja para negociar. Por um lado, então, temos um poderoso consenso de que não se pode permitir que uma calamidade causada pelo homem, como o 11 de Setembro, aconteça novamente. Por outro lado, temos a insidiosa desconfiança de que uma repetição seja praticamente impossível de evitar.

O terrorismo vai passar?

Assim como era um mito nos anos 1930 que «o bombardeiro sempre vai passar», é um mito hoje que “o terrorista sempre vai passar”. O terrorismo doméstico pode ser reduzido – se não totalmente eliminado – por uma combinação de policiamento e negociação.

O problema do terrorismo era sério na Europa ocidental durante os anos 1970, quando minorias nacionalistas (na Irlanda e na Espanha) e radicais marxistas (na Itália, na Alemanha e na Grécia) executavam uma campanha de assassinatos e destruição. Hoje, com a exceção do grupo separatista basco Euskadi ta Askatasuna (ETA), os responsáveis por esses crimes foram presos, marginalizados ou induzidos a renunciar à violência.

O número de incidentes terroristas caiu acentuadamente. O Exército Republicano Irlandês Provisório efetivamente dividiu-se, com sua liderança, no fim, tendo que optar entre a bala e a cédula, apesar do fato de que não está nem remotamente perto de atingir sua meta de uma Irlanda unificada. Os esquerdistas radicais de 1968 estão mortos, presos ou – com suas opiniões milagrosamente moderadas pelas tentações do poder – no governo. Nenhum movimento terrorista está imune ao cisma quando confrontado com, ao mesmo tempo, firmeza e diálogo.

E o Oriente Médio?

Um desarmamento do terrorismo desse tipo é concebível no Oriente Médio? Não – parece claro – enquanto Israel procurar uma solução puramente militar para o problema. No momento em que escrevo (verão de 2003), a violência entre israelenses e palestinos tanto em Israel quanto nos territórios ocupados custou a vida de quase 3 mil pessoas, desde a intifada de “Al Aqsa” em setembro de 2000: mais de 2 mil palestinos e mais de setecentos israelenses. Que o governo de Ariel Sharon tenha sido levado à construção de um muro em torno das áreas de habitação palestinas é um índice de seu desespero. Essa é uma política que deve algo à Alemanha de Ulbricht e à África do Sul de Verwoerd – um “muro de Berlim” através da Terra Santa para aplicar um novo apartheid.

O terrorismo no Oriente Médio não vai parar enquanto houver Estados dispostos a patrociná-lo.

O internacionalismo terrorista – ou, para ser exato, a disseminação do terrorismo em direção aos Estados Unidos – precisa de uma reação que ultrapasse fronteiras. Deveria ter sido óbvio bem antes de setembro de 2001 que o apoio a grupos terroristas por parte de Afeganistão, Cuba, Iraque, Irã, Líbia, Coreia do Norte, Sudão e Síria só poderia ser interrompido por meio de intervenção nos negócios internos desses países. Esse tipo de intervencionismo estava longe de ser fácil durante a Guerra Fria, quando qualquer ação americana com certeza provocaria uma reação soviética. Mesmo depois que o colapso da União Soviética deu aos Estados Unidos uma “hegemonia por omissão”; os responsáveis pela política americana achavam difícil imaginar algo além de punições em grande medida simbólicas.

Pretextos e efetividade

Em abril de 1986, o presidente Reagan ordenou ataques aéreos contra cinco alvos líbios«para ensinar uma lição a Qaddafi de que a prática de terrorismo patrocinado pelo Estado tem um custo alto» — nas palavras do secretário de Defesa Caspar Weinberger. Doze anos depois, em agosto de 1998, o presidente Clinton ainda estava usando a mesma tática, lançando mísseis contra supostas «instalações relacionadas ao terrorismo» no Afeganistão e no Sudão em retaliação às explosões nas embaixadas do Quênia e da Etiópia. Essas demonstrações deram pouco resultado. Na verdade, a imagem de um míssil Cruise atingindo uma tenda (vazia) parecia simbolizar a impotência americana – nas palavras do sucessor de Clinton, essas táticas eram simplesmente uma «piada».

Os Estados Unidos, porém, começaram a ficar mais confiantes em sua própria capacidade militar durante os anos 1980. Depois do nadir de abril de 1980, quando uma tentativa aérea de resgatar os reféns americanos em Teerã fracassou vergonhosamente, houve mudanças importantes no Pentágono. Os Estados Unidos continuaram a se engajar em operações anticornunistas secretas na América Central, patrocinando a guerra dos “contras” para derrubar o regime sandinista que havia chegado ao poder na Nicarágua em 1979, subsidiando o governo anticomunista de El Salvador e transformando Honduras em pouco mais do que um acampamento do Exército americano. Em muitos sentidos, era a continuação da abordagem «o nosso filho da puta» para a região, coberta com uma retórica da Guerra Fria que era apenas um pouquinho mais nova. O interesse público era limitado; uma pesquisa revelou que cerca de um terço dos americanos pensava que os “contras” estavam lutando na Noruega.

Novidades no front

As intervenções abertas dos anos 1980 eram mais novidade. Em outubro de 1983, o presidente Reagan ordenou uma invasão completa da minúscula ilha caribenha de Grenada para reverter um golpe de esquerda. O nome da operação, “Fúria Urgente”, revelava algo do humor mudado dos militares. O sucesso em Grenada foi seguido, seis anos depois, quando o presidente George Bush pai ordenou a derrubada do ditador general Manuel Noriega. Apesar do fato de que os Estados Unidos tinham concordado em entregar o Canal do Panamá em 1º de janeiro de 1990, a anulação das eleições de maio anterior por Noriega forneceu a justificativa para a invasão em larga escala por 25 mil soldados americanos. A operação “Causa Justa” foi uma nova mudança: força desproporcional usada, unilateralmente, para derrubar – em vez de instalar – um ditador.

Mudanças administrativas internas e mais dinheiro

Essa nova autoconfiança vinha, em parte, de dentro. A Lei Goldwater-Nichols (1986) tinha transformado a estrutura de comando das forças armadas americanas, promovendo o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas ao papel de assessor militar principal do presidente e, mais importante, criando uma nova elite de cinco “comandos unificados de combate”, cada um com responsabilidade sobre uma área geográfica especffica. Particularmente importante foi a transformação da Força-Tarefa Conjunta de Mobilização Rápida em um novo Comando Central, que deveria ser central em um sentido mais do que geográfico. O redesenho do atlas, implícito nessa nova estrutura, tinha consequências operacionais importantes, já que os Estados Unidos não tinham forças mobilizadas igualitariamente em todas as cinco regiões. O Centcom, em particular, tinha poucos soldados à disposição; o comandante responsável por essa região estrategicamente vital, que vai do Chifre da África à Ásia central, era, no início, um chefe com poucos índios. Uma consequência disso foi o crescimento em importância das altamente móveis forças de Operações Especíaís.

De modo significativo, os aumentos substanciais nos orçamentos dessas novas entidades militares coincidiram com acentuadas reduções no financiamento do Departamento de Estado. Acima de tudo, o processo de repensar o jeito americano de fazer a guerra – para ser exato, o processo de aprender as lições do Vietnã – finalmente deu frutos doutrinais. Como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Bush, o general Colin Powell detalhou quais lições deveriam ser essas. Nunca mais a geração de oficiais que havia liderado o esforço de guerra no Vietnã «aceitaria uma guerra com meio comprometimento por causa de justificativas meio explicadas que o povo americano não conseguia entender nem apoiar». Dali para a frente, os Estados Unidos «não deveriam empregar suas tropas em combates no exterior a não ser que o engajamento ou a ocasião específicos sejam julgados vitais para o nosso interesse nacional ou de nossos aliados»; quando esses casos surgirem, e só como «último recurso», soldados devem ser empregados «com convicção e com a clara intenção de vencer»; devem ser dados a eles «objetivos políticos e militares claramente definidos», mas tanto os meios quanto os fins «devem ser continuamente reavaliados e ajustados se necessário», e deve haver «alguma garantia razoável de que sempre haverá o apoio do povo americano e de seus representantes eleitos no Congresso». (Foi em parte para assegurar que esse tipo de apoio ocorreria que Powell mais tarde acrescentou o importante adendo de que todas as intervenções americanas deveriam ter uma «estratégia de retirada».

A verdadeira inflexão histórica

A ênfase de Powell na necessidade de clareza de propósito era sincera e saudável. Sob sua liderança – ele declarou explicitamente – não haveria outro fiasco como a expedição ao Líbano de 1983. Mesmo assim, é importante lembrar que o novo tipo de intervenção que Powell tinha em mente só se tornou possível por uma mudança fundamental no contexto estratégico global. O fato de a invasão do Panamá ter ocorrido só um mês depois da queda do Muro de Berlim está longe de ser uma coincidência. Antes, a ameaça soviética tinha inclinado os Estados Unidos a intervir secretamente, com frequência para preservar ditadores latino-americanos confiavelmente anticomunistas. Agora, com o império soviético ruindo, a intervenção podia ser bastante aberta e, ao menos em aparência, em nome de forças democráticas não só na América Latina, mas, potencialmente, em qualquer lugar. Nesse sentido, o verdadeiro ponto de inflexão histórico foi 9 de novembro, e não 11 de setembro. Depois da revolução na Alemanha Oriental em 9 de novembro de 1989, ficou repentinamente aparente que o líder soviético Mikhail Gorbatchev não iria ou não poderia manter o império russo mandando tanques para cidades da Europa do leste. Daí a importância da Alemanha, uma reunificação liderada pelo Ocidente do que havia sido antes material dos mais negros pesadelos dos líderes soviéticos anteriores, seguiu-se, por implicação, que os Estados Unidos estavam livres para se envolver mais ou menos em qualquer lugar. No dia 2 de dezembro, Bush e Gorbatchev formalmente declararam o fim da Guerra Fria. Em 19 de dezembro começou a invasão do Panamá.

No Iraque a coisa seria diferente

Quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait no dia 2 de agosto de 1990, ele, involuntariamente, criou a oportunidade para os Estados Unidos dar-lhe o tratamento que tinham acabado de impor a Noriega. Foi isso mesmo? Porque, mesmo com a União Soviética em crise, o Oriente Médio não era bem a América Central. Uma mudança unilateral de regime no Panamá tinha sido implementada com quase nenhum murmúrio de protesto internacional. Ainda assim, por duas razões cruciais, o Iraque mostrou-se diferente. A primeira foi a crença (que era quase universal em 1990) de que uma intervenção no Oriente Médio requeria a aprovação das Nações Unidas. A segunda foi que essa aprovação, ainda que fosse unânime, não seria legítima aos olhos dos islamo-bolcheviques. Pois a vitória da América na Guerra Fria tinha sido – nas ruínas da distante e semiesquecida Cabul – a vitória deles também.

Para lá e para cá

O foco geográfico do império americano mudou várias vezes ao longo do S20. No começo do século ele foi um império hemisférico, atingindo o Caribe a leste, a América Central ao sul, e, a oeste, o Pacífico. No meio do século, ele tinha sido forçado a, relutantemente, estender seu alcance até a Europa, e, durante boa parte da Guerra Fria, a segurança da Europa Ocidental parecia importar mais do que a Ásia ou, de fato, do que o Caribe.

Gradualmente, no entanto, o Oriente Médio veio a ser o núcleo em torno do qual a estratégia americana girava: por causa de Israel, por causa do petróleo, por causa do terrorismo. Com o fim da Guerra Fria, apresentaram-se as oportunidades para usar o revivescente poderio militar americano contra um ou mais desses Estados perigosos que simultaneamente ameaçam Israel, possuem petróleo e patrocinam o terrorismo.

A questão não era se os Estados Unidos iriam agir contra esses inimigos jurados – eles não podiam se dar ao luxo de não agir. A questão era se iriam fazer isso sozinhos ou com seus aliados tradicionais.

Niall Ferguson

Créditos → este post é composto por parte do capítulo «A Lógica do Terror» do livro«Colosso – Ascensão e Queda do Império Americano», escrito em 2004 por Niall Fergusson (1964) – historiador inglês, professor/pesquisador em Harvard, Oxford e Stanford e correspondente do Financial Times e da Newsweek, dentre outras atividades e livros publicados, inclusive no Brasil. Deve-se levar em conta o ano em que o livro foi escrito e os acontecimentos posteriores, até os dias de hoje. Introduzi subtítulos no texto para incentivar e facilitar a leitura.

Os livros a ler são:

Chomsky, Noam — O Império Americano – Hegemonia ou Sobrevivência — Rio de Janeiro, Brasil: Campus/Elsevier Editora Ltda., 2004.

Ferguson, Niall — Colosso – Ascensão e Queda do Império Americano — São Paulo, Brasil: Editora Planeta do Brasil Ltda., 2011.

Kiernan, V. G. — Estados Unidos – O Novo Imperialismo — Rio de Janeiro, Brasil: Editora Record Ltda., 2009.

Landes, David — Dinastias – Esplendores e Infortúnios das Grandes Famílias Empresariais — Rio de Janeiro, Brasil: Elsevier Editora Ltda./Editora Campus., 2007.

Lens, Sidney — A Fabricação do Império Americano – Da Revolução ao Vietnã: Uma História do Imperialismo dos Estados Unidos — Rio de Janeiro, Brasil: Editora Civilização Brasileira/Editora Record Ltda., 2006.

Moniz Bandeira, Luiz Alberto — Formação do Império Americano – Da Guerra Contra a Espanha à Guerra do Iraque — Rio de Janeiro, Brasil: Editora Civilização Brasileira/Editora José Olympio, 2009.

Morris, Charles R. — Os Magnatas — Porto Alegre, Brasil: L&PM Editores, 2006.

Perkins, John — A História Secreta do Império Americano — São Paulo, Brasil: Editora Pensamento-Cultrix Ltda., 2008.

Pieterse, Jan Nederveen — O Fim do Império Americano? – Os Estados Unidos Depois da Crise — Belo Horizonte, Brasil: Geração Editorial, 2009.

Tocqueville, Alexis de — A Democracia na América (livro I – Leis e Costumes; livro II –Sentimentos e Opiniões) — São Paulo, Brasil: Livraria Martins Fontes Ltda., 2005 e 2004.

Wolf, Naomi — O Fim da América — Rio de Janeiro, Brasil: Editora Record Ltda., 2010.

Wallerstein, Immanuel — O Declínio do Poder Americano — Rio de Janeiro, Brasil: Contraponto Editora Ltda., 2004.

Zakaria, Fareed — O Mundo Pós-Americano — São Paulo, Brasil: Editora Schwarcz Ltda./Companhia das Letras, 2008.

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