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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O atalho é um caminho mais longo


O atalho é um caminho mais longo

http://www.blogdomellao.com.br/forum/2010/08/09/o-atalho-e-um-caminho-mais-longo/


“ Tudo Pelo Social é impossível. Alguma coisa terá que ir pelo elevador de serviço” O resgate da dívida social do Brasil é urgente e imprescindível. Esse Pais que sempre soube vencer seus desafios agora tem pela frente um enigma para o qual quatro gerações de ideólogos, do vermelho sangue ao verde oliva, não encontraram resposta satisfatória. Com 2.200 dólares de renda per capita muitos dos problemas sociais que nos afligem já deveriam ter sido resolvidos. Países com renda equivalente possuem índices de escolaridade, saúde pública e nutrição muito superiores aos nossos. Na década de 50 ainda era Possível ironizar as utopias distributivistas da onírica esquerda brasileira. Afinal, o único especialista em distribuir pães sem antes tê-los produzido já falecera há dois mil anos e, depois dele, a multiplicação de pães só vem podendo ser feita através da prévia multiplicação das padarias. O incremento da produção, durante três décadas, foi uma bandeira quase que unânime da sociedade. Hoje, infelizmente, para contentar a todos necessário erguer mais alguns mastros.

A eternamente mal-humorada esquerda brasileira não tem razão quando alega que a miséria, no Pais, aumentou. A taxa de mortalidade infantil, que na década de 40 era de 25% , caiu para 7%; a expectativa de vida, que naqueles “anos dourados” era de 40 anos, hoje é de 63 . O analfabetismo, que foi superior a 50%, atualmente ronda a faixa dos 15 a 20%. O número de universitários decuplicou, o número de vagas escolares, proporcionalmente à população de faixa etária adequada, aumentou sensivelmente. Temos um leito hospitalar para cada 300 habitantes (1/1000,em 1940), e um médico para cada 750 habitantes (1/2500 em 1940). Os índices de saneamento básico também apresentaram sensível melhora e, qualquer outro indicador sério e confiável que se analise demonstrará avanços através do tempo.Por que, então, a atual preocupação com a miséria?Por uma razão simples. Na dourada década de 40 a miséria estava convenientemente longe dos olhos da opinião pública. Confinava-se no interior do Brasil, a uma razoável distância dos centros urbanos, onde uma classe media próspera vivia suas aspirações de grandeza sem maiores comprometimentos com as mazelas nacionais. Hoje não. A concentração da população nas metrópoles trouxe os miseráveis e maltrapilhos para a esquina de nossas casas. Não podemos mais ignorá-los. Eles estão em favela do nosso bairro, no semáforo da nossa rua, no assalta à nossa casa. Apesar de ser menor do que no passado, hoje, eles estão, com seu colorido dramático. O que fazer então?

A caridade, nas suas mais diversas modalidades, apesar de ser uma excelente solução para a auto absolvição de cada um, não resolve eficientemente o problema. Repressão e confinamento também não adianta. A não ser que queiramos criar aqui uma nova África do Sul. Enquanto cruzamos os braços, sem saber como proceder, as esquerdas, espertamente, avançam.Suas soluções são tão desconcertantes quanto as nossas. Não acabam com a pobreza e sim com a riqueza. Falam em dividir os campos. O resultado prático é a exportação da miséria de volta à zona rural. Propõem aumentar drasticamente o salário mínimo. Conseguirão apenas incrementar o desemprego e o subemprego. Tentam, através do incitamento a greves e passeatas, promover a ascensão social que, reza o bom senso, só pode ser obtida através do trabalho e do esforço pessoal. Pretendem apagar o fogo através de baldes de gasolina.Permeando os equívocos da esquerda e da direita está o Estado, cujos dirigentes, de forma canhestra e desastrada, esperam equacionar o problema da miséria através do ópio paternalista. Ao mesmo tempo em que distribuem o leite, desincentivam a proliferação das vacas. Quanto mais procuram baratear os alimentos, através de tabelamentos de preços, mais os encarecem através da desmontagem da estrutura produtiva. Prometem casa para todos e arrasam a construção civil, querem aumentar o numero de empregos mas, simultaneamente, aumenta os encargos trabalhistas. O povo talvez vivesse melhor não fossem tantos os seus pretensos defensores…

Há quem diga que, frente a tamanha competência, se entregassem o governo brasileiro a administração do deserto do Saara, em poucos anos iria faltar areia.Eivada por tão desastrosos equívocos, lentamente a nação vai amadurecendo para a aceitação de soluções racionais e anti-demagógicas.Estamos todos à procura de dirigentes que, finalmente, nos prometam o óbvio. Alguém que acredite, por exemplo, que sem trabalho não há progresso, sem sacrifício não há desenvolvimento, sem austeridade não se chega à prosperidade. Alguém que abdique da popularidade imediata em nome do prestigio permanente. Alguém, enfim, que proclame aos quatro ventos aquilo que todos nós já sabemos intimamente: merthiolate que não arde, infelismente também não cura. Governar não é tornar medidas simpáticas e sim necessárias, não se promove o “social” através de um minuto de heroísmo mas através de milhares de dias de trabalho incessante. Não se obtém a independência erguendo-se a espada, mas sim manejando-se a enxada.

Deixemos os heróis confinados às praças. Os pombos cuidarão deles. Precisamos hoje é de homens racionais, sensatos e realistas.Como dizia o filósofo, um povo que precisa de salvadores não merece ser salvo. Não ha soluções milagrosas. Queremos ir ao céu sem passar pelo purgatório. E enquanto não encontramos um jeito, continuamos por aqui, queimando no inferno.

Artigo escrito em 17 de março de 1989. Extraído do livro Nu com a mão no bolso.

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